.Se todo filme é uma sucessão de reproduções fotográficas - imagens em movimento - Greenaway se destaca no modo de trabalhar essa experiência audiovisual. Quem for buscar por suas obras vai deparar com um profissional que explora na película o teatro, a pintura, a ópera, o vídeo. Vai descobrir que ele diz não gostar de contar histórias, pois acredita que não se deve reduzir o cinema à literatura. Uma afirmação um tanto extremista talvez, já que seus filmes contam histórias sim, senhor. Mas é verdade também que seus trabalhos não são fáceis de ser "digeridos". Trata-se de uma experiência de imersão nas imagens, não há dúvida. E é por este motivo que escolhi uma sequência de um dos seus filmes - a qual me faz invejá-lo - para iniciar uma série de postagens que pretendo fazer com cenas do cinema que são verdadeiras obras de arte.
Para quem não gosta de sinopses de filmes ou mesmo ver algum trecho "antes da hora", não siga a leitura se ainda não assistiu "O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante", filmado no final da década de 1980. Como já li uma vez, é "orgânico", de "discurso poético", "discurso imagético". Nas cenas que se seguem no vídeo abaixo, um casal se encontra no banheiro de um restaurante (o homem, solteiro, e a mulher, casada, se notaram enquanto jantavam, cada um em sua mesa). Não é necessário nenhum diálogo: uma única câmera narra os acontecimentos em um enquadramento perfeito e em apenas um movimento. Esse movimento marca justamente a mudança de cenários. Mudança que é intensificada pela variação de cores e seus significados: branco (isolamento, sonho) e vermelho (perigo, paixão). A teatralidade na representação e o figurino impecável acompanham a iluminação. Signos, gestos, expressões (ou a falta delas). Uma verdadeira aula de Estética e Semiótica.
A trilha eu deixei propositalmente como última observação. Ela é do compositor inglês Michael Nyman e é intitulada "Fish Beach". Curiosamente não se encontra na trilha sonora original deste filme, mas do produzido no ano anterior à ele (1988), "Afogando em Números".
Levando em consideração o cenário principal do filme, bom apetite! Contemple essas belíssimas fotografias. É um trabalho estético fascinante.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
*Rodando Filme
.
Imagem cinematográfica como pintura: é mais ou menos nessa linha de raciocínio que seguem os que admiram o trabalho do inglês Peter Greenaway e se aprofundam em pesquisas, monografias, mestrados e por aí vai. Eu mesma me envolvi em estudos de sua filmografia. Mas isso já faz alguns anos e eu me enferrujei no quesito "cinema greenawayano".
Porém, o olhar independe do universo acadêmico. Tem certas coisas que não exigem muito do intelecto; às vezes a sensibilidade conduz muito bem o entendimento. Por isso deixarei de lado definições complexas e tomarei como ponto de partida a maneira como Greenaway explora a ambiência em seus filmes. Acho que esta palavra me ajuda bastante: ambiência. Ela engloba tudo: o cenário, a fotografia, os personagens, as ações. Trata-se da composição de várias telas que são mostradas uma após a outra em um ritmo que permite ao espectador contemplar.
.
.
.
Uma pequena curiosidade quanto ao figurino: este é de autoria do estilista francês Jean-Paul Gaultier. Para quem precisar se familiarizar, ele é o reponsável pelos trajes de Madonna em sua turnê "Blonde Ambition", de 1990.
.
.
.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Tininha,
ResponderExcluiradorei o seu blog! Adicionei nos meus favoritos e passarei sempre por aqui.
E o nosso café?
Lulu.