quinta-feira, 9 de abril de 2009

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*Rodando Filme
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Imagem cinematográfica como pintura: é mais ou menos nessa linha de raciocínio que seguem os que admiram o trabalho do inglês Peter Greenaway e se aprofundam em pesquisas, monografias, mestrados e por aí vai. Eu mesma me envolvi em estudos de sua filmografia. Mas isso já faz alguns anos e eu me enferrujei no quesito "cinema greenawayano".

Porém, o olhar independe do universo acadêmico. Tem certas coisas que não exigem muito do intelecto; às vezes a sensibilidade conduz muito bem o entendimento. Por isso deixarei de lado definições complexas e tomarei como ponto de partida a maneira como Greenaway explora a ambiência em seus filmes. Acho que esta palavra me ajuda bastante: ambiência. Ela engloba tudo: o cenário, a fotografia, os personagens, as ações. Trata-se da composição de várias telas que são mostradas uma após a outra em um ritmo que permite ao espectador contemplar.

Se todo filme é uma sucessão de reproduções fotográficas - imagens em movimento - Greenaway se destaca no modo de trabalhar essa experiência audiovisual. Quem for buscar por suas obras vai deparar com um profissional que explora na película o teatro, a pintura, a ópera, o vídeo. Vai descobrir que ele diz não gostar de contar histórias, pois acredita que não se deve reduzir o cinema à literatura. Uma afirmação um tanto extremista talvez, já que seus filmes contam histórias sim, senhor. Mas é verdade também que seus trabalhos não são fáceis de ser "digeridos". Trata-se de uma experiência de imersão nas imagens, não há dúvida. E é por este motivo que escolhi uma sequência de um dos seus filmes - a qual me faz invejá-lo - para iniciar uma série de postagens que pretendo fazer com cenas do cinema que são verdadeiras obras de arte.
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Para quem não gosta de sinopses de filmes ou mesmo ver algum trecho "antes da hora", não siga a leitura se ainda não assistiu "O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante", filmado no final da década de 1980. Como já li uma vez, é "orgânico", de "discurso poético", "discurso imagético". Nas cenas que se seguem no vídeo abaixo, um casal se encontra no banheiro de um restaurante (o homem, solteiro, e a mulher, casada, se notaram enquanto jantavam, cada um em sua mesa). Não é necessário nenhum diálogo: uma única câmera narra os acontecimentos em um enquadramento perfeito e em apenas um movimento. Esse movimento marca justamente a mudança de cenários. Mudança que é intensificada pela variação de cores e seus significados: branco (isolamento, sonho) e vermelho (perigo, paixão). A teatralidade na representação e o figurino impecável acompanham a iluminação. Signos, gestos, expressões (ou a falta delas). Uma verdadeira aula de Estética e Semiótica.
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Uma pequena curiosidade quanto ao figurino: este é de autoria do estilista francês Jean-Paul Gaultier. Para quem precisar se familiarizar, ele é o reponsável pelos trajes de Madonna em sua turnê "Blonde Ambition", de 1990.
A trilha eu deixei propositalmente como última observação. Ela é do compositor inglês
Michael Nyman e é intitulada "Fish Beach". Curiosamente não se encontra na trilha sonora original deste filme, mas do produzido no ano anterior à ele (1988), "Afogando em Números".
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Levando em consideração o cenário principal do filme, bom apetite! Contemple essas belíssimas fotografias. É um trabalho estético fascinante.
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Um comentário:

  1. Tininha,
    adorei o seu blog! Adicionei nos meus favoritos e passarei sempre por aqui.
    E o nosso café?
    Lulu.

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